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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Jesus conhecia homossexuais! Ou você está convencido que não?

Imagem aleatória do Google Images - Aqui



Há algum tempo estava a fim de escrever sobre homossexualidade no blog e não sei por que cargas d'água decidi que o dia seria hoje.

O cristianismo é muito interessante. E estudá-lo é mais interessante ainda. Acreditar nas escrituras e estudá-la se torna um hábito para aqueles que insistem em descobrir o que há de genuíno nessa religião. Sim, estou dizendo religião. Não defendendo uma ou outra insinuação da etimologia da palavra. Mas, utilizando-se do conceito popular universal de uma forma de culto ao divino, tomando "forma" no sentido de doutrinas e liturgia.

Nessa trilha pela genuinidade do cristianismo o primeiro passo é dado na direção do seu fundador, Jesus Cristo. E na observação desses princípios básicos é que se tenta recriar hoje um cristianismo mais cristão (embora pareça ser redundante a frase) e menos dogmático e litúrgico.

E como se entender a homossexualidade dando os passos rumo a Jesus?

Antes de responder essa pergunta ou ousar apresentar uma resposta pertinente apenas, precisamos reconhecer o tempo e alguns fatores sobre o próprio Jesus.

1 - Todos sabem que Jesus nasceu exatamente na época em que o Império Romano era o dominador do mundo conhecido. Posteriores a época helenista, onde muitos aspectos dessa cultura grega foram incutidos neles, o Estado Romano se difundiu e evolui pelas terras conquistadas. Entre as conquistas encontraremos o povo judeu. Esse povo cheio de tradições e rígida cultura religiosa abrigaram o surgimento de Jesus Cristo. Está aqui então o primeiro fato que temos que aceitar. Jesus Cristo viveu entre judeus e freqüentou várias cidades, durante suas idas e vindas ele teve contato com romanos (fossem soldados ou autoridades, dentre outros). O que quero dizer com isso, tanto pelas cidades circunvizinhas às aldeias judaicas quanto pela miscigenação de Jerusalém, Jesus viu muitos cidadãos que tinham feito a opção homossexual.

2 - Segundo fato a se levar em consideração é que Jesus (pelos 04 evangelhos reconhecidos em sua autenticidade) nenhuma vez sequer faz menção à homossexualidade. Ele fala sobre tudo, moral, caráter, dinheiro, família, egoísmo, morte, vida, etc. Agora de todos os assuntos abordados pelo Mestre a homossexualidade não foi citada. Não acredito que tendo citado o tema, judeus tão fervorosos como eram seus discípulos, teriam se esquecido de relatar essas palavras depois para os textos bíblicos.

Bom, entrando no assunto mais a fundo. Quero lhes ressaltar algo utilizando as palavras de um ótimo pensador antigo chamado Voltaire:

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las."

Com base nos fatos apresentados e na frase citada, pretendo dar-lhes minha resposta para a pergunta acima.

Jesus bem sabia o que haveria de acontecer nos anos seguintes (ele mesmo cita que pessoas em seu nome fariam as aberrações das cruzadas enganando a todos e também sabia que iríamos crer nele, pois de fato orou por isso no Getsêmani. Entre outros versos também.) sendo o homem sábio que era se preocupou com uma coisa apenas...

"amem-se uns aos outros como eu vos amei"

Jesus foi o homem que perdoou a prostituta, tocou impuros, almoçou com ladrões, aceitou religiosos, conversou com desprezados, enfim... Jesus não tinha fobia a nada! Ele sempre expressava sua opinião (se concordava ou não com os atos que via), todavia em nenhum momento agiu com fobia. Inclusive na única passagem em que dá uma resposta intimidadora (a mulher sírio-fenícia que pediu a cura da filha) ele NÃO agiu com fobia, tendo todos os outros que estavam próximo feito isso. Mesmo não podendo (pela lei dos judeus) designar um milagre direto a ela, ele deu um jeito e lhe foi solução.

Agora se ele se esforçou tanto para nos ensinar isso, porque ele não falou de homossexualidade? Acredito que ele sabia que usaríamos de qualquer texto para utilizar como um pretexto para sermos uma espécie de Hitler, declarando jihad, matando e exterminando homossexuais.

E sem ele ter dito nada abertamente essa religião atual se utiliza de menos de 10 versículos em todo o novo testamento para excomungar e desprezar os homossexuais. Seria isso que Jesus faria? Acredito fielmente que não. Se bem li os textos, estou convencido de que pelo contrário, ele marcaria um almoço para falar de acontecimentos políticos com eles.

Agora toda essa guerra pelos direitos hetéros e homo é um tanto ridícula e nada vejo de Jesus nela. Esse direito de não ter uma funcionária homossexual trabalhando com sua família ou em sua empresa é tão preconceituosa tendendo a fobia quanto uma atitude de não se contratar ou ter perto evangélicos, religiosos afins.

Deus nos fez livre e Jesus respeitou essa liberdade. Não discutimos nesse post o certo ou errado, mas a existência ou inexistência do amor entre as pessoas. Não vejo Jesus militando nem a favor nem contra a PL 122 e sim conversando em um piquenique com pessoas a favor e contra o projeto de lei. Inspirando o amor entre elas, o respeito que permite você mesmo sem concordar com as palavras da outra pessoa desejar-lhe a permissão à fala. Nisso vejo Jesus. E o certo e o errado? Onde entra a ausência da religião ou do pecado? Quem define pecado ou extremismo religioso? Diga-me vocês que já leram a bíblia em que momento vocês se esqueceram de que lá fala que é o Espírito Santo que tem o trabalho, a pureza e a perfeição para dar a ambos os grupos o destino à verdade?


Uma boa noite.

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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Daisy

Era um travesti alto, magro e desengonçado, e tinha uns implantes. Não sei como começou na homossexualidade, mas disse que tinha sede de Deus desde antes. Quando criança, num passeio a uma Igreja Católica com sua mãe, viu um caixão de vidro com uma estátua de Jesus dentro. “Igreja do Jesus morto”; a mãe era devota. Quando chegaram perto, ele, pirralho, sentiu que Jesus lhe olhava.

– Mãe, Jesus está vivo!
– Pare de dizer besteira, menino...

Ela não viu, mas ele sabia que Jesus não estava morto. Adulto, Daisy foi se desiludindo consigo mesmo numa sede que não terminava por outro tipo de vida, apesar de ter tudo o que um travesti poderia desejar, como um parceiro e um filho adotivo.

Ligava o rádio na sintonia dos pentecostais. Ouvia músicas e pregações o dia inteiro. Não se cansava nem da repetição nem dos chavões. Ouvia até a hora de sair para ganhar a vida na rua. Tornou-se um hábito ouvir o evangelho. O parceiro e os vizinhos se irritavam. Daisy ficava mais amuado, mais convicto. Começou a ler a Bíblia.Uma noite não agüentou mais. Percebeu que não tinha coração para levar a vida assim. Decidiu que aquela seria a sua última noite na rua.

Ouviu rádio e pegou a Bíblia. Abriu no primeiro capítulo de Apocalipse, que fala sobre a revelação de Jesus, em suas vestes de luz e língua como espada de fogo. Lindo! Assim seria sua fantasia, a última da vida de rua.

– Vou de “drag-jisas”.

Enfeitou-se todo de branco e dourado, reverente. Não era uma drag qualquer, era o próprio Jesus de uma maneira simbólica dizendo-lhe que chegara sua hora de mudar. Não conseguiu fazer a vida naquela noite; pregava sem parar, como os pregadores do rádio que ouvia há tanto tempo. Pregava para as prostitutas, para os clientes, para os passantes. O ponto se esvaziou, os habituais corriam para não ouvi-lo. Finalmente, no romper da manhã, tendo arruinado a noite de todos os freqüentadores do ponto, sentou-se feliz, cantando uma daquelas músicas do tipo “sai demônios e vem Jesus”.

Logo depois Daisy adoeceu e descobriu-se portador do vírus HIV. Estranhamente não teve medo. Sua irmã conhecia algumas pessoas em Belo Horizonte e resolveu dar uma passada por lá para ver se encontrava ajuda para ele. A vida tem seus caminhos; ao receber a medicação, Daisy encontrou também algumas pessoas do grupo VHIVER, que ajuda portadores do vírus da aids a viver com qualidade. De lá esbarrou nos crentes da Caverna de Adulão e conheceu o Jesus que amava. Converteu-se, “destravecou-se”, “homenzou-se” do melhor jeito que pôde. O parceiro ficara no Rio de Janeiro com o filhinho adotivo. Teve de dizer-lhe que era homem agora e que cuidaria do filho, mas já não seria “casado”. Sentiu-se puro como um bebê. Dizia que já tinha feito sexo demais a vida toda e agora não precisava mais; iria viver para Deus de todo o seu coração...Mas não podia ficar em Belo Horizonte, tinha de voltar ao Rio. O Geraldo, da Caverna, se preocupou: “E agora, o que vai ser de Daisy? Quem vai entendê-lo para integrá-lo?”A essa altura Daisy já se chamava como homem, mas os trejeitos de uma vida no submundo não saem fácil. As marcas (as mãos na cintura, o andar reboloso e a voz fina que ainda desafina) ficam. Daisy voltou para o subúrbio do Rio. Despachou o parceiro, pegou suas coisas e mudou-se. Mas aí veio a parte dura: conseguir um emprego, se sustentar de maneira digna e encontrar uma igreja onde fosse aceito. Nos primeiros meses quase não tinha dinheiro; a única congregação do bairro era o lugar mais perto. As emoções de Daisy ainda eram as emoções de uma caricatura de mulher. Ia à igreja esperando amor como o que encontrara em Belo Horizonte. No começo encontrava o porteiro:

– “Tem culto hoje não, desculpe.”
– “Ah...” – o ar decepcionado de Daisy não mudava em nada a cara do porteiro.

Infelizmente a igreja não conseguiu entender o rapaz. Daisy tentou mais uma e mais outra. Mas o que aconteceria se no bairro vissem aquele homem ainda com peitos freqüentando os cultos? Terminou por entender que não era bem-vindo – mais uma ferida para carregar para quem já sofreu tantas. Sem ajuda na fé e sem apoio econômico e social para recomeçar, a fé de Daisy se apagou. Geraldo o viu um dia desses nas páginas de uma revista, militando pela causa homossexual, e respirou aliviado, pensando: “Pelo menos ele ainda está vivo...”

Daisy, se você está lendo isto, tente outra vez. Vamos aprender a caminhar com você pelo caminho da restauração. Vamos aprender a fazer da sua vergonha a nossa vergonha e, pelo nosso amor, fortalecer a sua fé naquele que nos transforma.



Texto de Bráulia Ribeiro é missionária em Porto Velho, RO, e presidente da JOCUM – Jovens com Uma Missão.


__________


Essa história real marcou-me desde quando a li pela primeira vez, talvez alguns já conheçam mas com certeza serve a todos os outros também. E depois de um texto desses deixo a reflexão, a compaixão, a revolta e a reflexão para vocês. Sem comentários, só a Paz.