terça-feira, 12 de novembro de 2013

3 tópicos para discutir a morte ou a cura da religião no futuro.

Tópico 1 - O discurso da vida versus o do conhecimento.

Na época de Jesus a sociedade judaica era altamente religiosa, isso implicava em um mínimo necessário de conhecimento. As crianças estudavam a Torá e o Talmud era vivido ao pé da letra. Conhecimento eles possuíam, uns mais outros menos, mas havia um senso comum religioso muito mais profundo do que o de hoje.

Especulo que seja por isso que toda a mensagem da vida de Jesus era focada em suas obras. Imagina se a história fosse contada citando apenas o lado discursivo... Ele seria visto como um rabino, um mestre mas nunca como alguém diferente ao ponto de ser o próprio Deus. Na história havia de ter uma diferença entre ele e os demais doutores da lei, talvez seja por isso que a narrativa é construída em cima dos diferenciais e não do que era óbvio a época.

Agora, a época mudou. As pessoas não tem mais o mínimo necessário de conhecimento religioso. Na verdade, todo o conhecimento é embasado no Wikipédia ou no senso comum. Todavia, esse senso comum de hoje também é diferente. O que pretendo dizer é que as pessoas propõem uma vivência, uma experimentação, um teste, para poderem possuírem uma opinião a respeito. Imagina um pai virando para o filho e dizendo: "Coma o abacate! Experimente pelo menos uma vez para saber se é bom ou ruim!". Ai então o filho experimenta, acha horrível e nunca mais em sua vida ele volta a comer abacate.

Hoje os mais jovens experimentam religiões, conceitos, filosofias, as que lhes parece aceitável ao "paladar" pode ser ou não a escolhida. E as que já no momento da experimentação deixaram a desejar ficam de lado para sempre. Acho isso, me desculpem, estúpido. A jornada espiritual não pode ser pautada por uma experiência. Afinal, a Bíblia diz muitas vezes que devemos dar a Deus nosso "culto racional", que devemos adorar a Deus em "espírito e em VERDADE", que se questionados devemos dar "explicar a razão da nossa fé".

Os cultos hoje são meros parlamentos de auto-ajuda, eles ensinam a como lidar com a vida, com finanças, com os outros e até com outras igrejas. E me incomoda pensar que Jesus tinha uma característica muito diferente disso. Por exemplo, em Mateus 5.1, diz que ele ensinava as multidões. E  se prestarmos atenção no discurso iniciado ali veremos um dos mais longos discursos, mais didáticos e mais abrangentes de Jesus. Ali ele falou da vida, costumes, leis etc., todavia, o cerne de sua mensagem era falar do Reino de Deus. E sobre isso ele se dedicava didaticamente a ensinar sempre.

Ora, como poderia ter formado discípulos para lhe replicar a mensagem? Um intensivo de ensino de 3 anos. Agora eu fico pasmo como as igrejas esperam que as pessoas conheçam o Reino de Deus sem ensino e conhecimento, apenas através da interpretação empírica de como deve ser a vida segundo a vida de Jesus. Como eu posso viver como Jesus viveu se eu não sei o suficiente sobre ele, seu tempo, seus hábitos, seu contexto, para CORRETAMENTE interpretar suas atitudes?!

Sem profundidade não há experiência correta no reino, especular sobre isso é dizer as ovelhas que tem que seguir um mestre e sua voz, sendo que eles não sabem como diferenciar as vozes que ouvem. Bom, não é de se espantar que um dia o profeta disse: "Meu povo perece por falta de conhecimento, porque tu o rejeitaste, por isso te rejeitarei como sacerdote... (Transcrição livre de: Os 4.6)".

O que acho mais engraçado nesse versículo é que as pessoas vivem dizendo que o povo morre por que conhece pouco, mas dificilmente você vai ver alguém citar que isso é culpa dos caras de microfone que não fizeram o serviço direito. Afinal, acho que precisa muito mais do que uma hora e meia, uma vez por semana, para que o conhecimento resulte em frutos de experiência cristã, a fim de criar uma onda de exemplo forte que sirva como pregação para os que desconhecem o evangelho.

Tópico 2 - Os irmãos mais velhos influenciam os mais novos.

Veja a dinâmica em uma família: os mais velhos começam a se tornar diferenciais para os mais novos, no lugar do pai e da mãe, assim que chega a adolescência. E muitas vezes, os próprios mais velhos, acabam sendo substituídos por amigos ou outros exemplos conforme a idade se avança. Todavia, é fato de que os mais jovens se espelham nas palavras e experiências vívidas dos mais velhos para formarem suas próprias.

E está aí porque eu acho que o evangelho para a geração dos mais jovens está fadado a sub-vida (se é que existe essa expressão). Eu me considero essa galerinha mais velha e vejo os mais jovens que estão ficando bem grandinhos agora. Bom, todos os meus traumas, raivas, ódios, rancores e dessabores vívidos na religião foi percebido por eles. Assim, vejo refletir na nova molecada os mesmos comportamentos que eu e minha galera teve. Nossa experiência foi horrível e, por isso, a deles está sendo. Nossas opiniões envenenadas estão em seus ouvidos e... pasmem! Eles foram testar as experiências e acabaram por terem as mesmas. Afinal, os mesmos caras que me massacraram estão lá esperando eles alguns anos mais tarde e terminaram sua missão. Claro que isso não é a regra geral, tem os que permanecem, mas o número dos que são vão é assustador.

Se as gerações são interdependentes, não tem como cuidar da nova se não salvar a atual. Se você quer um bom evangelho a ser transmitido terá que se ocupar em limpar e suturar diversas e inúmeras feridas primeiro. Por que? Simples, estrategicamente é óbvio e claro o conceito de que para atingir um grande número de pessoas é necessário descobrir e trabalhar os "indivíduos pontes", "os betas" e ai vai muitas nomenclaturas. Quem são? São aqueles que conseguem entender a geração passada e transmitir uma mensagem para a próxima. E são exatamente essas pessoas que estão putos com a geração passada e transmitindo sua realidade nua e crua para a próxima.

Tópico 3 - Um serviço de SAC.

 A religião hoje é pautada pela experiência, se acha acima do conhecimento, não se preocupa com os soldados feridos e só quer ganhar os novos. E... se isso não bastasse... ela não precisa dar satisfações de si mesmo. É por isso que tem tanto religioso babaca nesse mundo. Ele não pensa muito e repete o que o cara de microfone diz. Ele odeia o homossexual dizendo que o ama. Ele odeia o pecado e diz que aceita o pecador expulsando os adúlteros da comunidade. E assim caminha a humanidade.

O Reino segundo Jesus apresenta respostas para as perguntas mais óbvias das pessoas e, se por algum motivo, a resposta ainda não pudesse ser dada ela era prometida para logo mais. Não vejo uma religião decente se não responder as perguntas das pessoas. Para mim respostas esquivadas é sinal de falta de profundidade ou de falta de veracidade. Não consigo conceber um evangelho do Reino pautado em misticismo.

Aí você vem com toda cara de pau do mundo e diz: "e a fé?".

A fé, respondo eu, é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem. Preste atenção nas palavras: fundamento e prova. Isso meu amigo são respostas. A fé é uma resposta para algo que você não consegue mensurar ao olho nu. A fé é o milagre materializado quando alguém pergunta se existe milagres. Ou você se esqueceu de Jesus respondendo João dessa forma. Ele não podia mensurar em palavras a resposta que João queria, portanto, fez a fé se transformar na resposta. Jesus agia assim sempre.

Não é atoa que ele perguntou: "Quando o Filho do Homem vier, achará fé na terra?". Hoje, ter fé é sinônimo de não ter a resposta para algo mas mesmo assim você se encucou naquilo. Não vejo, falta de respostas no novo testamento. As dúvidas não respondidas eram sanadas com fatos a olho nu. Ooutras eram respondidas com base no conhecimento. E assim, se baseou o livro de Atos.

Termino com a seguinte sentença: Não se propor a responder é o primeiro sinal encontrado pelas pessoas de que ali, onde você está, não tem resposta alguma.