sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Cristianismo para crianças

Fui educado desde criança no cristianismo e agora já adulto vejo as aulinhas que dão nas classes infantis, por isso, por empirismo próprio e sem aprofundar nos temas, teses e teorias citadas abaixo, pretendendo iniciar um discurso sobre a forma de se ensinar a religião cristã para os pequeninos.

O que é o Reino de Deus? - Essa primeira pergunta deveria ter uma resposta óbvia para qualquer cristão, todavia, isso não é fato. Cada um responde algo diferente, desde salvação, perdão, amor, libertação, justiça e etc., pode parecer bonito e até agradável incluir todos esses conceitos em uma definição, mas em minha opinião é algo burro e preguiçoso de se fazer. Sim, o Reino de Deus é tudo isso mas em sua definição incluir conceitos tão profundos e diversos é criar uma resposta genérica. Tão genérica que até hoje, mais de dois mil anos depois, ainda há cristãos que se escorregam de um lado para o outro para definir esse Reino.

O que você compreende como a mensagem central do cristianismo será aquilo que você julgará vital para ser ensinado como base religiosa para uma criança. Ou seja, se você considera que o Reino de Deus é salvação para os pecadores, imediatamente, você irá promover um plano de ensino sobre pecado, arrependimento, sacrifício e salvação. Se considerar o Reino como sendo justiça, seu plano de ensino abrangerá céu, inferno, justos e pecadores, eleição, juiz, réus e etc. Isso faz com que o ensino para as crianças seja refém do professor da escolinha e seu entendimento sobre a cristandade.

Eu acho isso o princípio das confusões de hoje, porque essas crianças serão cada vez mais ensinadas sobre o entendimento católico medieval sobre certo e errado, pode e não pode, herói e vilão, céu e inferno e estarão cada vez mais longe do ensino (que em minha opinião é o correto) verdadeiro sobre o Reino de Deus: o Amor.

Se teorizarmos sobre o empirismo e as ideias de cada um ser uma tábula rasa (citando por hora essa teoria e deixando as outras para um próximo texto) precisamos levar em conta de que a primeira impressão dada para as crianças irá se enraizar como sendo a real base estrutural da religião cristã. Exemplificando:

- Quando ensinamos o plano de salvação para as crianças estamos ensinando elas a julgarem as atitudes, que por sua vez eram em sua maioria inocentes ou instintivas, só que para elas entenderem precisaremos dar exemplos e metáforas que suas mentes compreendam. Tais como: mentir para a mãe é feio, porque a Bíblia condena a mentira. Ok, o princípio está correto, todavia, essa observação é profunda demais e deveria ser ensinada de maneira mais correta. Afinal, a Bíblia condena dar falso testemunho CONTRA O SEU PRÓXIMO, ou seja, falar coisas mentirosas que podem prejudicar deliberadamente o seu irmão. Afinal, se não fosse assim como Raabe após mentir aos soldados (Josué 2) poderia aparecer na "galeria dos heróis da fé" em Hebreus capítulo 11?

- Outro exemplo é que ao ensinar a criança de que mentir é pecado você precisa ensinar o que é pecado. E de uma maneira que parece ser fácil (o que não é) os professores deixam claro que pecado é aquilo que Deus condena e o Diabo gosta. Assim, mentir para a mãe sobre não ter escovado os dentes se torna algo tão sério a ponto de Deus condená-lo ao inferno e o Diabo gostar mais daquele pequenino. Como pode ser assim? Como uma criança pode ser inserida de maneira tão brutal em uma teologia tão complexa e em compreensão?

- Pronto, fazer uma oração a noite a Papai do Céu irá perdoá-la e fazer ela se tornar uma criança feliz, amável e que irá praticar os critérios do Reino aos demais.

Isso para mim é tolo demais. Vemos adolescentes que foram criados nesse exemplo envoltos em um ódio violento por Deus, desconhecendo o verdadeiro amor e perdão por que desde cedo eles vivem pecando e viver assim é exaustivo, pois a sua natureza é acusada o tempo todo e precisam viver em eterna oração noturna pedindo perdão. Quando aparece a vida oferecendo a abnegação da culpa medieval cristã esses jovens se distanciam de Deus escravizando para sempre o Reino de Deus em estereótipos infindáveis.

Na minha opinião, para não prolongar a crítica, eu acho que a estrutural central do cristianismo é o amor. Esse deveria ser ensinado às crianças, quando elas compreenderem a compartilhar, perdoar ofensas, amar os que praticam bullying e viverem em paz, ai sim poderão ser inseridas no contexto de certo e errado, afinal, para o cristianismo que eu acredito, o pecado é tudo que é anti-amor, matar é um mal contra o próximo, falar falso é um mal contra o próximo, cobiçar a mulher alheia é um mal contra o próximo, tudo isso é devido a falta de amor ao próximo. Para isso Jesus veio, para revelar o amor do Pai que tinha ficado oculto entre as milhares de normas feitas por Moisés, ele veio dar amor para os renegados e mostrar que nisso se resume o Reino de Deus: amar a Deus sobre todos as coisas e o próximo como a si mesmo. E se termos problemas para entender isso devemos seguir seu único mandamento: amar aos outros como ele nos amou. Jesus se torna o exemplo. O Reino se resume em amor e se deixarmos para ensinar o amor para as crianças depois de termos enchido a cabeça delas de juízo, que ainda não estão preparadas para ter, iremos fazer o amor ficar a sombra da justiça e da teologia complexa.

Um ponto de vista.