segunda-feira, 20 de maio de 2013

O complexo de messias

Quando eu era mais jovem eu sonhava em salvar o mundo. E já salvei de diferentes formas, em vários sonhos acordados, desses que se fala sozinho enquanto a imaginação corre solta durante a espera do sono. E nunca economizei em sonhos, sonhei em resolver os problemas da nação, das crianças de rua, dos viciados, dos perseguidos, da economia, das guerras. Já imaginei inúmeros projetos, alguns cheguei até a planejar por completo. Sempre quis dedicar a minha ridícula vida para que alguém tivesse uma que não fosse em nada ridícula. E hoje, como todo mundo percebe cedo ou tarde, descobri que a vida não favorece sonhadores. Ela é cruel. Sim, a vida é cruel. E dizer isso me fez ser o mais pessimista entre todos os meus amigos e inimigos. E, na boa, hoje sei que isso pode salvar minha vida.

Já fiz todos os discursos ideológicos possíveis, já fui um dos mais politizados adolescentes de minha época e para dar crédito ao paradoxo da vida, hoje trabalho em uma profissão capitalista que enriquece pessoas através do incentivo ao supérfluo de outros (na maioria das vezes é isso). O que mudou? Aceitar a realidade. Não dá pra levantar nenhum dos projetos que um dia imaginei sem recursos, como os meus jogos na mega-sena ainda não deram resultados só dá pra trabalhar como prole e tentar fazer o dinheiro render. É quase impossível ser relevante na sociedade sem o networking adequado, se você não vender sua alma para isso, precisará trabalhar e conhecer pessoas como ninguém. Em um eterno "provar que você é capaz" para o resto da sua vida. Então, posso hoje ser o sonhador mais pessimista do mundo, todavia, reconheço que certas lutas nunca serão ganhas e um trabalho bem feito tem que ser relevante para o todo.

Respeito o trabalho um por um, acho que ele pode e é importante. Acho que não adianta dar cidadania se o cidadão vai morrer de fome antes de terminar o ensino médio. O equilíbrio é a política estatal que promove um e o outro. A sociedade que inspira o bem e contém o mal. O jurídico que reconhece o inocente e não salva o injusto. E por ai vai... Para não extender, a violência não irá ter fim. O mal não acabará. A família está fragmentada. A sociedade (a começar pela brasileira) está em crise. A democracia é uma ilusão. E o mundo caminha de uma forma moderna e tecnológica o mesmo caminho que percorre desde que existe. Reconhecer isso é o primeiro passo para começar o trabalho. Como diz uma música da Zélia Duncan, "Desse trauma de ser Cristo, deixa disso. Vira o disco. Deixa". Não somos salvadores do mundo, nem da humanidade. Podemos ter nossos sonhos realizados, sim! Mas com o pé no chão! Lutando, com garra e força. Só assim, pensaremos em soluções que podem impactar milhares, salvaremos um a um e quem sabe...muito quem sabe, poderemos salvar uma parcela do mundo da tão cruel vida, que nunca será tão cruel enquanto estivermos preocupados só com o status no Facebook ao invés de dar uma boa olhadinha no dia a dia dessa bola azul.