quinta-feira, 6 de março de 2014

O Silêncio

Silenciaram o silêncio. Ele que já era tão calado, sossegado, no canto, quase depressivo... foi silenciado. E que ironia, silenciado porque falou demais. Falou em um mundo de grandes faladores, todavia, esqueceu que não era ele que podia falar. Nessa sociedade os faladores tem poder, tem força e não permitem que qualquer um fale. A fala é coisa rara, segregada a esses faladores e aos outros só lhes resta o silêncio.

Foi assim em um dia, em outro, mais outro e por fim de novo. O silêncio mais uma vez ousou falar, dar sua opinião, comentar, reclamar, expressar-se. Pura bobagem, caiu em uma armadilha tão idiota - "O que você pensa a respeito disso?", disse o Falador - que vacilo, o Silêncio abriu o bico e falou. Outra vez foi sentenciado, não devia ter falado nada! Os faladores não querem saber sua opinião, se fazem esse tipo de pergunta é para ter certeza de que você não falará nada diferente do que deveria ser falado (ou omitido), mas ele nunca aprende. Cai no mesmo erro vez após outra.

Como mudar o mundo se esse mundo não é dele? Silêncio se fez. Silenciou-se. Ele adorava escutar, ouvir diversas opiniões, gostava de ter amigos de opiniões diferentes, esse foi o erro. Amigos só eram enquanto não sabiam sua opinião diferente, eles não sabiam ser amigos de pessoas diferentes por mais que o Silêncio soubesse e quisesse isso para ele. Nesse mundo de tantos faladores o Silêncio se silenciou de uma vez por todas e jamais falou novamente.