segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Uma (des)Crônica


A cidade amanheceu fria e em um cinza que anunciava chuva. Não qualquer chuva, mas aquela chuva suja, cheio de resíduos acumulados pela poluição e seca de mais de cem dias sem chover. Apanhar o trânsito para o trabalho de moto é sempre um desafio, ele se vestiu de inúmeros agasalhos e fazendo uma prece ligou a magrela e partiu.

O caminho era tão comum que sua mente nem mais se ligava no que passava. Como se estivesse no piloto automático foi dar-se por conta de si ao sentar diante do PC do escritório. Os mesmos rostos, os mesmos “bons dias”, uma repetição que ia ser quase absoluta se não fosse pelo fato do escritório da torre empresarial do lado estar desocupado. Um ponto vazio na vista da janela, uma vista tão boa que qualquer ironia sobre ver só janelas e cinqüenta centímetros do céu seria desnecessária.

Como as pessoas podem fazer sempre a mesma coisa? Já vivemos tão pouco — pensou angustiadamente. Ultimamente nada fazia sentido, nem os sonhos, nem os planos que fizera para alcançá-los. Porém, um dos maiores vícios era imaginar. Lembrava exatamente do primeiro dia que isso começou e dizia para si mesmo que lembrava qual tinha sido a primeira vez que fez isso conscientemente. Nunca mais largou, a esse vício muitos outros se somaram e aparentemente de nenhum se libertou.

Continuar contando seu dia seria o mesmo que matar-nos de tédio. Sentiríamos uma dó tão grande que o assassinaríamos por pena ou nos suicidaríamos de desgosto, todavia das opções nenhuma o salvaria. Naquele dia a única coisa que o salvaria era ouvir. Ah! Mas para isso precisaria um milagre: deixar a surdez. E todos sabem que milagres não existem. Ou existem?!


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